Ser formado em História é ter como horizonte trabalhar como professor em dois ambientes: o ensino fundamental e médio ou trabalhar em uma universidade como professor e pesquisador. Evidente que há outras possibilidades de se colocar no mercado de trabalho. Mas, a educação é o campo que mais absorve esse tipo de profissional. A história pública aparece como uma forma de os historiadores e historiadoras ampliarem a sua forma de atuação.
A história pública emergiu como um campo de estudo e prática que busca democratizar o acesso ao conhecimento histórico, promovendo uma maior interação entre historiadores, acadêmicos e o público em geral. Ao contrário da história tradicional, que muitas vezes se concentra em narrativas acadêmicas e especializadas, a história pública procura envolver as comunidades locais e criar espaços de diálogo e reflexão sobre o passado. Isso pode ser feito por meio de exposições, tours guiados, mídia digital e outras formas de divulgação acessíveis ao público.
Um dos principais objetivos da história pública é tornar a história mais relevante e significativa para as pessoas comuns. Isso envolve não apenas apresentar fatos e datas, mas também explorar histórias pessoais, experiências individuais e diferentes perspectivas sobre eventos históricos. Ao incorporar uma variedade de vozes e pontos de vista, a história pública enriquece nossa compreensão do passado e nos ajuda a reconhecer a complexidade da história humana.
Além disso, a história pública desafia as noções tradicionais de autoridade histórica, incentivando a participação ativa do público na construção do conhecimento histórico. Isso pode incluir projetos de história oral, onde as pessoas compartilham suas próprias histórias e memórias, ou iniciativas de crowdsourcing, onde o público é convidado a contribuir com materiais históricos e insights. Essas práticas colaborativas não apenas ampliam o alcance da história, mas também promovem um senso de pertencimento e identidade cultural entre as comunidades.
Todos os argumentos utilizados nos parágrafos anteriores conferem um caráter ideológico à história pública que nos dá esperança em vontade de trabalhar. De querer fazer acontecer, realizar algo que tem uma razão simbólica cheia de ideias e vontades de fazer do Brasil um lugar melhor e mais justo. Mas a história pública surge também e, principalmente, como uma forma de pesquisadores da área da história encontrarem mais oportunidades de trabalho, já que a academia e o ensino básico não conseguem absorver todos os formados.
Poderia aqui entrar na especificidade brasileira onde há tantos professores de história desempregados enquanto há tantas escolas sem professores de história, mas é um tema que merece um texto somente para abordar a questão.
O fato é que para além dos ideais, é preciso ganhar dinheiro também e pagar as contas. E, muitas vezes, a história pública tem dado lugar à precarização de profissionais altamente especializados que não apenas trabalham por baixos salários, mas também acumulam diversas funções.
A historiadora e o historiador percebem na própria pele que aquela sua pesquisa sobre injustiça e opressão está muito mais próxima do que poderiam imaginar. Não estariam esses profissionais excluídos de uma lógica capitalista de desmonte de direitos e do avanço da informalidade trabalhista nas primeiras décadas do século XXI.
Como reverter essa situação? O que fazer diante desse cenário desalentador onde os sonhos nos impulsionam, mas a vida real nos sacode segunda pela manhã, sem qualquer poesia? Eu não sei e não tenho uma resposta. Apenas dúvidas que quero continuar falando num próximo texto. Tenho feito algumas reflexões sobre o assunto. Por hora, digo que a história pública me leva para um lugar de motivação e desejo. Mesmo que, às vezes, meu sonho seja aquele mini sonho de padaria comprado por dois reais em moedas perdidas entre livros e cadernos cheios de anotações e alguma poesia.
SOBRE O AUTOR:
Max Oliveira é professor, ator, produtor, doutor em história pela UFRRJ, com doutorado sanduíche pela Universidade de Chicago, membro do OBCAR (Observatório do Carnaval da UFRJ/Museu Nacional) e pesquisa temas como: desinformação, fake news, discurso de ódio, racismo algorítmico, precarização do trabalho, Escolas de Samba, história pública, história digital e tudo mais que lhe der na telha! Fundador do Poeira da História.