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Escritores Vivos: A cultura está presente em São Gonçalo.

São Gonçalo figura no imaginário fluminense como uma localidade pobre, violenta, inserida no que chamamos de região metropolitana do Rio de Janeiro. A cidade fica no entorno da Baía de Guanabara, do outro lado da poça, como se costuma dizer, já que o olhar que lançamos é sempre a partir da capital, o Rio de Janeiro.

Um dos desafios para a educação é conseguir engajar não apenas os estudantes, mas também a comunidade no processo educacional. Como se aproximar da população em tempos em que o conhecimento científico está sob ataque de setores reacionários da sociedade? Como realizar uma proposta educacional que ultrapasse a sala de aula, dialogando com uma educação conectada com o século XXI?

Hoje nossa conversa é com Yornara Costa, professora e escritora. Ela acredita que o trabalho começa pela identidade. “Não existe uma identidade de ser gonçalense e isso é grave pra mim. Não querem participar da história da cidade. A professora dá o exemplo de uma amiga dela: “Esses dias uma amiga me ligou querendo sair pra almoçar, ela mora em São Gonçalo há mais de 30 anos e ela não sabia onde poderia almoçar. Como se não houvesse um restaurante bom na cidade e existem dezenas, centenas.”

Tem uma ideia também atrelada a status. Por exemplo, eu melhorei de vida eu tenho que sair de São Gonçalo. As pessoas não se dão conta do que é produzido aqui, do que tem aqui e de como deixar isso em evidência. Acho que é essa a questão. As pessoas não param pra apoiar o patrimônio cultural da cidade porque não há identidade com a própria cidade.”

Para Yonara tudo começou com a ideia sobre o que ela queria militar, se engajar enquanto professora, escritora, cidadã. “Eu não sei se eu escolhi essas causas ou se essas causas me escolheram de alguma forma.” Graduada pela UERJ-FFP e com mestrado pela UFRJ a professora afirma que “a educação é uma militância por si só. Você encarar uma sala de aula, você dar aula numa instituição pública é um desafio.”

Sobre o projeto Escritores Vivos, do qual ela é idealizadora, Yonara diz que sonhava em fazer um grupo de leitura e que “São Gonçalo tem dezenas, centenas de escritores. Então quando fazemos os Escritores Vivos é tentar ir nessa militância de divulgar, olha só o que está acontecendo aqui, olha como tem gente que escreve muito bem, que canta muito bem.”

O projeto Escritores Vivos tem três anos e surgiu a partir da abertura do Bistrô D’avó  no centro da cidade que virou o espaço em que o evento acontece.

Foto: Um dos encontro do Projeto Escritores Vivos, 2019.
Fonte: Facebook Bistrô D’Avó.

A grande diferença que o projeto traz é que “nos grupos de leituras as pessoas sempre debatem os clássicos, como se a gente só pudesse falar dos clássicos. E como que um autor se torna um clássico. E quando ele está vivo? Eu lembro sempre de Lima Barreto quando eu falo disso.”

O Lima Barreto foi alguém que viveu toda a época dele, pensou, refletiu, produziu e não teve valorização em vida.  Vamos falar só sobre escritores vivos, que acabaram de publicar. O que essas pessoas estão fazendo? E pensar quem está produzindo aqui em São Gonçalo. Não que todos que passaram pelo projeto Escritores Vivos são de São Gonçalo. Mas, se não são de São Gonçalo, eles têm uma relação efetiva com a cidade.

A proposta era deixar todo mês um livro à venda no Bistrô, as pessoas comprariam e no último sábado do mês o escritor era levado para discutir sua obra. Para Yonara, também é uma tentativa de desmitificar a imagem que se tem dos autores como alguém distante, em outro patamar, longe das pessoas. Além do trabalho com no projeto Escritores Vivos, Yonara também estimula que seus alunos escrevam e se tornem futuros escritores. Ela contou que sempre inscreve eles em concursos.

E as pessoas começavam a ver o autor ali, perto delas, tomando um café ou uma cerveja. Era uma oportunidade de interagir com esse escritor e ao mesmo tempo conhecer essa produção que é feita na cidade e que fica, em muitos casos, invisibilizada.”

No projeto Vidas Gonçalenses, Yonara repensou o conceito de celebridade. O que significava ser célebre, quem realmente merece esse status? “A gente foi ver quem realmente merecia ser chamado de celebridade na cidade. Começamos a pesquisar e as pessoas foram surgindo. Pessoas simples que em seu anonimato faziam trabalhos inspiradores. E montamos uma revista, como se fosse uma revista Caras com essas pessoas.”

Outro projeto pensado por ela, de limpeza na Praia das Pedrinhas, dialoga com a importância de se preservar o patrimônio cultural natural da cidade.

Foto: Belo por do sol na Praia das Pedrinha.
Fonte Pinterest (Google) – Edilson Moura.

Os alunos me procuraram querendo estudar os biomas aquáticos e eu pensei, vamos começar pelas praias de São Gonçalo. Assim chegamos na Praia das Pedrinha, falamos com a associação de moradores e depois seguimos para o mangue e vimos que estava tão sujo que não víamos caranguejos. E a gente pensou se o poder público não faz a gente pode propor alguma ação. E assim começou, todo primeiro sábado do mês, durante um ano, a gente ficou indo na Praia das Pedrinhas.”

Quer assistir esta entrevista na íntegra? Ela aconteceu no dia 3 de setembro e faz parte do evento Patrimônio Cultural: Desafios e possibilidades em São Gonçalo. Para assistir, basta ir no Instagram Poeira da História. Lá o leitor também poderá conferir as outras entrevistas que discutem patrimônio cultural a partir do contexto da cidade de São Gonçalo.

Imagem divulgação

Até a próxima!

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