Quem passa pela Zona Portuária do Rio de Janeiro não pode imaginar o quanto de história existe naquele lugar e, principalmente, o quanto de história da escravidão está presente em diversos pontos que hoje passam despercebidos no cotidiano acelerado da cidade.
O Cais do Valongo fica em uma localidade conhecida como Pequena África. Falamos sobre esta região em texto anterior, você pode clicar no link para dar uma conferida e entender melhor sobre a região em que está o maior porto de entrada de negros escravizados na América Latina.
Já se sabia que naquela localidade existia um cais, mas somente com as obras de revitalização portuária, ele veio a tona e hoje pode ser visto como um importante registro arqueológico da cidade. O Sítio Arqueológico Cais do Valongo recebeu em 2018 da UNESCO o título de Patrimônio Mundial. Mas você sabe o que foi o Cais do Valongo? Vamos voltar um pouco na história.
O comércio de escravizados no Rio de Janeiro era feito na rua Direita, próximo à Alfândega, nos arredores da praça XV. Era nesse lugar que os escravizados desembarcavam. Mas, a segunda metade do século XVIII o Rio se torna a capital do Brasil e com uma desculpa sanitarista, decidem transferir o comércio para outra região. O que queriam mesmo era esconder a venda dos escravizados, tirar do ponto mais importante da cidade, de maior evidência, e colocá-lo escondido, longe dos olhos da população e dos visitantes que ali desembarcavam.
Em 1774, o vice-Rei Marquês do Lavradio determinou que o comércio de africanos escravizados deveria acontecer além dos limites da cidade e o local escolhido foi o Valongo, que ficava entre a Pedra do Sal e a Gamboa. A partir de 1831, a entrada de africanos escravizados no país tornou-se ilegal, mas somente em 1850 é extinto definitivamente. Mas, no curto espaço de tempo em que o Cais do Valongo funcionou como o principal porto de entrada de escravizados africanos nas Américas, pesquisas demonstram que quase um milhão de indivíduos ali chegaram. Sim, foi isso mesmo que você leu, quase um milhão de africanos escravizados chegaram ao Brasil pelo Cais do Valongo.

Muitos chegavam doentes e morriam assim que chegavam, os recém-chegados que não resistiam, eram levados para o Cemitério do Pretos Novos, um outro ponto importante, que vale um texto, só para falar dele. Os que chegavam muito fracos e conseguiam sobreviver, eram levados para serem vendidos e isso acontecia acontecia na rua Camerino, em dezenas de sobrados. Alguns viajantes estrangeiros que presenciaram os horrores do período afirmam que os galpões podiam ter até 400 escravizados, amontoados, esperando até que um comprador aparecesse. Há relatos, inclusive, de um galpão com centenas de crianças.
Quer saber mais sobre o Cais do Valongo e sobre os outros pontos que fazem parte do roteiro da Pequena África? No dia 25 de janeiro, às 10h, faremos um passeio histórico e contaremos mais sobre essa história que não pode ser esquecida. Para participar, basta clicar no link abaixo e fazer a sua inscrição.
Referências:
MATTOS, Hebe; ABREU, Martha; GURAN, Milton (orgs.) Inventário dos Lugares de Memória do Tráfico Atlântico de Escravos e da História dos Africanos Escravizados no Brasil. 1ª. ed. Niterói: PPGH – UFF, 2014.
HONORATO, Claudio de Paula. Valongo: o mercado de escravos do Rio de Janeiro, 1758 a 1831. Dissertação de mestrado. Universidade Federal Fluminense (UFF). Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Departamento de História. Rio de Janeiro, 2008.
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