Uma publicação no site do IPHAN de fevereiro de 2017 informava aos negociantes de obras de arte e antiguidades que tivessem o cuidado com a possibilidade de peças roubadas da Capela de Sant’Anna, da Fazenda Colubandê, em São Gonçalo – RJ, serem oferecidas para venda no mercado. A publicação dizia ainda que em janeiro de 2017 foi notificado o saque à Capela, que teve seu retábulo totalmente desmontado e removido do prédio.
O quanto de indignação causa na população uma notícia como essa? O apagamento da história é um projeto político ou apenas fruto de um descaso nascido na ignorância? Como Cleise Campos questiona, na conversar que tivemos com ela no dia 02 de setembro via Instagram. Ela pergunta se a população não participa por falta de estímulo do poder público ou os governantes não se engajam por falta de pressão da sociedade?
O fato é que após a saída do Batalhão de Polícia Florestal e Meio Ambiente em 2012, a fazenda sofreu um processo de degradação sob os olhos perplexos daqueles poucos que tinham consciência de seu valor cultural inestimável para a cidade de São Gonçalo e para todo o Brasil. O problema é que o descaso que fez a sua capela ser saqueada e a construção principal ser degradada pelo tempo e por vandalismo, não mobilizou a população da cidade, inconscientes da gravidade do caso. Abaixo uma imagem da fazenda ainda ocupada pelo Batalhão Florestal.

Foto: Facebook Fazenda Colubandê – Quem Ama Cuida.
Cleise Campos é uma das várias pessoas que integram o Coletivo Fazenda Colubandê – Quem Ama Cuida. Os participantes do coletivo fazem um trabalho voluntário, demonstrando que algo precisa ser feito e que não é possível assistir de braços cruzados a degradação diária da fazenda. Cleise acredita que se o coletivo tivesse o apoio de trinta mil gonçalenses na frente da fazenda, o poder público seria pressionado a agir.
É importante lembra que o município tem sua população estimada em mais de um milhão de habitantes. Ela conclui que “A gente não consegue envolver a população. O descaso da Fazenda Colubande está ligado ao espaço que a cultura ocupa na população e no próprio poder público.”
Quem passa hoje pela RJ-104 não imagina o estado de abandono em que se encontra a Fazenda Colubandê. Tombada pelo IPHAN ainda nos anos 1940, a fazenda é considerada o único exemplar de arquitetura colonial rural preservada em área urbana do Brasil. Sua construção é doséculo XVII e entre dezenas de fazendas e engenhos, era a mais rica e sua história inicial se dá através de uma família de judeus.
A Capela de Sant’Anna, recentemente saqueada, e que faz parte da fazenda, é datada de 1618. Abaixo uma imagem que mostra o estado atual da fazenda abandonada após a saída do Batalhão de Polícia Florestal.
Fonte: Coletivo Fazenda Colubandê. Imagem Interna da Fazenda.
Há oito anos o coletivo Fazenda Colubandê atua em prol da fazenda articulando uma proposta que envolve cultura e economia. O coletivo acredita que o espaço da fazenda pode ser uma opção para as famílias e trabalhadores da cultura, para a agricultura familiar, através da Feira Cultural Gastronômica que semanalmente acontecia no local.
Se faz necessário olhar para a Fazenda Colubandê com a noção de sua importância histórica e sua capacidade de agregar para a comunidade do seu entorno um valor turístico e cultural. A fazenda pode se tornar um símbolo para a cidade, contribuindo para que São Gonçalo seja ressignificada no inconsciente fluminense como um espaço de cultura, de história e turismo, longe do imaginário que hoje não ultrapassa as páginas policias.
Você pode apoiar o Coletivo Fazenda Colubandê através da sua página no facebook, espaço utilizado para a divulgação das ações realizadas pelo grupo. Se quiser ver como foi a entrevista com Cleise Campos basta acessar o Instagram @poeirahistória. Lá estão todas as quatros entrevistas no IGTV do canal.
